quarta-feira, 29 de julho de 2020

Esgotamento no RPG



Um dia desses eu vi uma discussão no Masmorra de Valkaria sobre RPG e diversão do mestre e dos jogadores, que colocava os mestres num papel mais parecido com um trabalho do que com alguém que está se divertindo também. Ao ler aquela discussão, me lembrei de um texto antigo que tinha escrito e por um motivo ou outro acabei não publicando.

Eu achei o texto e resolvi trazer pra vocês aqui, espero que gostem.




Numa antiga campanha, eu tive problemas sérios com minha narração. Meu grupo era formado por sete amigos próximos que já se reunia há cinco anos para jogar. Nesse período, tirando algumas breves exceções, eu sempre fui o mestre. E eu cansei disso.

Desde a campanha em que mestrei TRPG em Tamu-ra, antes mesmo de saber que a Jambô lançaria o cenário como um livro nos próximos meses (coincidência, eu juro!); venho conversado com muitos mestres que, como eu, resolveram parar de mestrar por um período ou até largaram os seus antigos grupos por diferentes motivos.

No RPG existem dois tipos de atores – aqueles que participam da interpretação do jogo de forma efetiva. São eles, os mestres e os jogadores. Se você está lendo esse post, muito provavelmente já entende o que cada um faz, ou pelo menos tem uma noção. Mas então, eu pergunto a você: Quais as obrigações e funções de mestres e jogadores?

É curioso, costumamos saber o que um mestre ou jogador tem que fazer, mas geralmente nos limitamos a preparar aventuras e criar fichas de personagens. Conhecer o sistema de jogo em si vai de cada pessoa, alguns acham necessário, outros só sabem aquilo que vão usar, por exemplo. Porém existem mais obrigações que cada um deveria ter e que desequilibra a relação entre os atores, o que pode levar a uma exaustão, levando qualquer um deles a parar de jogar.

Hoje em dia, principalmente se você é um RPGista já adulto, é muito difícil arranjar tempo para jogar RPG. Muitos compromissos e imprevistos podem dificultar separar aquelas horinhas semanais para se dedicar a um jogo com vários amigos. Jogar usando a internet, como Discord, roll d20, RRPG, Skype.... é uma maneira de tentar contornar os empecilhos para o Hobbie.

Só que, mesmo assim, com tudo marcado e um horário cuidadosamente preparado para encaixar todos os compromissos de todo mundo, alguém pode faltar. E quando você vai ver, essa pessoa faltou não por um imprevisto, que é completamente aceitável, essa pessoa faltou para fazer outra coisa qualquer, como comer uma pizza (já rolou mesmo).

Quando marcamos um RPG, temos um compromisso com os nossos amigos. Justamente por isso, esperamos que aceitem nossas desculpas e que o jogo flua sem todo mundo. É impossível jogar com todos os seus amigos o tempo todo, mas a principal obrigação na mesa, de qualquer jogador ou mestre, é jogar RPG.

Se você não puder jogar, avise com antecedência, ou até saia da mesa. Aproveite o encontro com os amigos, coma besteira, viva a fantasia dos contos dignos de universos cinematográficos que sua mesa é capaz de gerar. Porém, não deixe de participar. Evite usar o celular demais ou se distrair jogando outra coisa durante a sessão. Isso vale para todos, inclusive pro mestre atrás do escudo.

Uma outra maneira de deixar o ambiente melhor e aproveitar e transitar entre as funções na mesa. Jogue como diferentes personagens para variar. Mestre também. No meu caso e, infelizmente, no de muitos outros mestres, uma mesa inteira parou de se reunir porque apenas uma pessoa tinha a obrigação de preparar aventuras, estudar o sistema, improvisar. Ninguém trocava de cadeira, nem por um One Shot. Mestrar uma campanha é trabalhoso, por isso valorize o que o seu mestre (narrador, juiz, etc.) está fazendo e tente se colocar no lugar dele.

Algumas Dicas de Como ser um melhor Jogador


Relendo o meu texto parece que sou um mestre frustrado sem jogadores. Desculpa por isso. Sempre me diverti muito com RPG e ainda tomo a posição de mestre em outra mesa. Minha ideia é possibilitar uma relação mais tranquila entre mestres e jogadores de RPG.

Uma dica importante é conversar com todo mundo da mesa. Pergunte ao mestre as ideias dele para o jogo e tente fazer um personagem que não fuja tanto do tema – mas fugir um pouco é sempre bom. Conversar com outros jogadores para discutir builds ou história de personagens é bom, assim como perguntar aos outros suas ideias para resolver os problemas da aventura.

A não ser que o sistema especifique isso, ninguém ali joga contra você, mesmo que estejam em posições antagônicas vez ou outra. Ainda assim, é normal o sangue esquentar em situações mais tensas, só pensar que é para você ter raiva do personagem e não do jogador ao seu lado.
Tente ler o sistema, mesmo que dedicado a parte que você gosta mais. Vá para os talentos, ou as descrições de raças, lugares e povos. RPG sempre foi e sempre será leitura. Só não se prenda a isso, cada mesa tem suas características e certas regras ou descrições podem estar bem diferentes.

Além de tudo, tente deixar o lugar mais divertido. Zoar um amigo xingando ele é comum e é brincadeira, isso não te impede de ajudar a arrumar as coisas da mesa ou até dividir o custo do lanche ou de algum material que vão usar, como miniaturas, livros ou dados. As vezes isso vai te render amizades além da mesa e você pode ser convidado para um rolê legal, esse é o lado mais social do RPG.

Algumas Dicas de Como ser um Mestre Melhor


O mestre é o cara que tem mais obrigações numa mesa. Isso não tem como fugir. Você vai ter que pensar em NPCs, aventuras, testes, magias, etc. Até se você é daqueles que improvisa bastante – como eu – vai precisar juntar recursos para isso, como tabelas ou até ter uma carga cultural alta e fazer a cabeça esquentar de tanto que é obrigado a pensar rápido.

Nos sistemas mais de fantasia, uma dica boa é conhecer as magias do jogo. Elas sempre quebram a lógica dos mundos e, por isso, podem render boas ideias de detalhes numa aventura, como uma armadilha ou mecânica de certo encontro.

É bom ler e se inspirar, anotar ideias e conversar com os seus jogadores. Saiba o que pensam sobre seus personagens e sobre a campanha, quem sabe até pergunte sobre o personagem de fulano para ciclano. Tenha ideias e tente conversar com todos sobre qualquer mudança de regra e suas próprias intenções com aquele sistema que está usando no momento. Fale inclusive da pegada daquele jogo, se será mais focado em combate, algo mortal ou heroico ou se será um jogo de intriga.

Muito importante também é entender que aquilo que você prepara não é sagrado e não foi escrito em pedra. Aquele castelo que você preparou não vai ser usado e aquele NPC pacífico vai apanhar de bobeira. Isso é bom! A liberdade e caos de um RPG é algo que nenhum vídeo game é capaz de imitar e nem será pelas próximas décadas. Abrace a loucura e o improviso, pense em histórias que ocorrem sem os jogadores e então veja elas destruídas pelas atitudes dos mesmos. Você vai rir muito com os seus amigos.

Considerações finais


Jogar RPG é muito divertido e pode mudar como você reage a várias situações. Vários psicólogos estudam suas várias aplicações e se você lê essa revista sabe que é um jogo que pode lhe fazer muito bem.

Tente não dividir mesa com gente que você não gosta e seja sincero sobre as atitudes para ter uma mesa mais saudável. E, por favor, jogue e mestre RPG. Esse jogo é sobre sair da sua zona de conforto e improvisar a todo momento, por que você esta aí parado jogando a 10 anos da mesma maneira?

Abraços ou beijos

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