domingo, 2 de junho de 2013

Crônicas de Britvânia - A Ascensão de Britva

Essa semana venho com a segunda parte das crônicas de Britvânia. Nesta parte, você acompanha a escalada de Britva ao poder; se quiser saber como tudo começou, o link abaixo te direciona para o primeiro capitulo das Crônicas de Britvânia: A queda de Rus. http://athousanddices.blogspot.com.br/2013/05/britvania-queda-de-rus.html
Britva acordou dias depois em uma cabana de janelas opacas. Não sabia se era dia ou se era noite. Seu ventre parecia arder em chamas, e toalhas ensanguentadas estavam jogadas ao lado da cama. Uma velha cozinhava um pouco adiante, algo com cheiro agridoce. Sua cabeça girou, quando a velha olhou para ela e sorriu enquanto Britva sentia seu útero expulsar alguma coisa e o sangue correr forte, inundando os lençóis. A menina fechou os olhos e se rendeu a escuridão reconfortante do desmaio. Quando acordou novamente, a dor e o sangue haviam sumido, só restava como indicio de que aquilo tudo não havia sido um sonho, a mancha rosada no lençol. A velha estava sentada ao seu lado, cochilando. Ela se levantou silenciosamente, e decidida a caçar seus torturadores, atravessou a porta. Para sua surpresa, ela não saiu da cabana, mas se viu num cômodo maior, repleto de portas nas quatro paredes. Nesse cômodo havia uma lareira, algumas poltronas onde mulheres se sentavam e se aqueciam enquanto fiavam e bordavam. Assustada, Britva começou a correr por entre os cômodos, abrindo portas a esmo e entrando por elas, tentando encontrar a saída. Mas tudo o que conseguiu foi orvalhar sua testa com suor, passando por inúmeros aposentos até chegar novamente ao quarto onde despertara. A senhora agora estava acordada, e esperava por ela.

“Você conversou comigo, depois que acordou da primeira vez. Finalmente você saiu daquela situação terrível, Britva. Tivemos medo de perdê-la”. Britva estava confusa e transpirava, ofegante. “Quem é você, como vim parar aqui e como sabe meu nome? Os uracs, eles... eles roubaram minha pureza, e me deixaram para morrer, ah, pela Deusa...” Começou a chorar convulsivamente. Suas mãos se abriam e fechavam e ela caiu de joelhos. A velha caminhou até ela e enrolou seu xale vermelho em seus ombros, abraçando-a. “Eu sou Yaga, a bruxa. Você foi salva, assim como todas as outras aqui. Todas são refugiadas dos uracs, mulheres que perderam seus maridos e filhos, e que conseguiram fugir dos buracos do inferno”. Controlando-se, Britva perguntou o que eram os buracos do inferno, e Yaga explicou. “Os uracs levam as mulheres para haréns subterrâneos onde elas se tornam escravas sexuais e objetos de reprodução. As mulheres são forçadas a beber um tipo de composto alquímico que as permite gerar uracs. Em alguns anos, terão fêmeas de sua própria espécie e nos descartarão. Algumas conseguem fugir e quando eu as encontro trago-as aqui, assim como fiz com você”. Britva enxugou as lágrimas e se levantou. Amaldiçoando-se por seu tolo momento de fraqueza, ela abriu a porta. “Onde estão os homens do reino? Porque eles não defenderam suas esposas e filhas?” Ela disse, parando no umbral da porta; a velha baixou os olhos. “Ora, Britva, você sabe muito bem como eram os homens de Rus. Gordos e acomodados, não conseguiriam lutar nem que pudessem passar seis meses se preparando. Já não são vistos por aí, se é que algum sobreviveu”. Britva fechou os olhos e respirou fundo. “Então teremos de fazer alguma coisa”.
Britva conversava com as mulheres, tentando estabelecer algum plano. A cada história relatada ela se lembrava de sua própria tragédia, e dia após dia o ódio dela pelos uracs aumentava. Inconformada com os homens que falharam tão miseravelmente em socorrer suas mulheres, ela se perguntava porque diabos elas tinham passado suas vidas cozinhando, cozendo, criando filhos e cuidando da casa, preenchendo sua função diligentemente se os homens que deviam protegê-las haviam sido incapazes de fazê-lo. Lentamente, junto com o ódio dos uracs, crescia em Britva um ressentimento pelos homens e seu comodismo. Apesar de na mesma noite ela querer sair e fazer justiça, Yaga a convenceu a não fazê-lo pois, assim como as outras mulheres ela não tinha treinamento algum. Mostrando um amplo salão que havia em sua casa, Yaga instruiu às mulheres que treinassem alí, para adquirir ao menos os conhecimentos básicos de combate. Apesar de Yaga ser velha, ela sabia como lutar com espadas leves e arcos, pois em sua juventude ela havia se aventurado e aprendido muitas coisas. Mas enquanto as outras refugiadas se sentiam bem usando armas leves ou arcos, Britva queria usar armas pesadas, e treinava com maças e espadas largas; apesar de serem armas poderosas Britva não conseguia manusea-las por muito tempo, pois não tinha o vigor necessário para tanto. Eram armas feitas para homens grandes e robustos, e ela era apenas uma mulher que havia recém saído da adolescência. Então ela passou a trabalhar seu corpo incansavelmente, dispondo de todo o tempo que estava acordada para preparar seu físico. Poucas das refugiadas se entregavam tão intensamente ao treinamento quanto ela. Alguns meses depois de iniciado o treinamento, Yaga julgou que elas estavam prontas para experimentar o combate verdadeiro. Reunindo todas as mulheres no salão, ela disse: “Vocês treinaram durante esses meses, e agora temos aqui pouco mais que duas dúzias de guerreiras prontas para o combate. Existe um buraco do inferno próximo daqui, eu conheço a entrada. Aquelas dispostas a sacrificar suas vidas para salvarem suas irmãs cativas, poderão deixar a minha cabana. Será perigoso, portanto preparem-se”. Algumas horas depois, vinte mulheres saíram da casa de Yaga. Britva se espantou, pois, embora fosse infinitamente grande por dentro, por fora ela apenas uma pequena cabana incrustada na escarpa de uma montanha. Yaga mantinha uma magia que deixava o espaço interior muito maior do que o exterior. Descendo a montanha, a velha indicou o caminho até a entrada do buraco do inferno. “Ali, logo após aquela vila em ruínas, vocês encontrarão um lago. Do lado do lago encontrarão um buraco, que é por onde os uracs passam com suas vitimas. Não sei o que se pode esperar lá dentro, mas preparem-se para vislumbrarem coisas terríveis. Boa sorte, e que a deusa as acompanhe”.
As mulheres marcharam, encontraram o lago e desceram o buraco. Após algumas curvas, elas chegaram numa caverna ampla e espaçosa, onde acorrentadas nas paredes, estavam seis mulheres nuas, sujas e feridas. Quatro guardas comiam numa mesa no meio do salão escavado, e foram pegos de surpresa pelas guerreiras, que embora mal preparadas, eram muito numerosas para eles. Com sua espada bastarda, Britva arrancou a cabeça de um deles, enquanto as outras mulheres tomavam de assalto os outros. Brianna, uma das guerreiras, foi ferida no rosto e perdeu um olho, mas naquele dia nenhuma delas pereceu. As mulheres cativas foram resgatadas e antes que as entregassem para Yaga, Britva as interrogou, alimentando seu ódio com cada relato de tortura e sofrimento. Por meio de uma delas, a guerreira descobriu onde ficava o buraco do inferno no capitão urac que comandava aquela área. “Irmãs, sei que apenas começamos a combater, mas temos urgência em vencer essa guerra. Devemos marchar já de encontro ao capitão, antes que eles saibam de nossa insurreição e se preparem. Enviem de volta Brianna e Irvina junto com as irmãs hoje resgatadas, e avancemos sobre o inimigo, pois lá muitas outras sofrem como estas sofreram. Quem está comigo?”. Alimentadas pelo seu recente sucesso, todas concordaram, e mesmo antes de voltar para a cabana, Britva e suas companheiras marcharam. Desta vez o combate foi intenso; eram mais de trinta uracs guardando as quarenta prisioneiras. Porém eles estavam acomodados e foram pegos de surpresa, como os quatro haviam sido pegos anteriormente. Britva demonstrou uma ferocidade espantosa, e mesmo tenso sido ferida no ombro esquerdo e na coxa, eliminou muitos inimigos. Cinco de suas companheiras perderam a vida no combate. Após acuarem os inimigos, Britva avançou sobre seu líder, fazendo questão de enfrentá-lo sozinha. Ela era desajeitada com a espada gigante, e foi ferida repetidamente com cortes superficiais nos ombros e nas mãos; o capitão urac buscava cansá-la e ganhar tempo. No entanto, numa investida particularmente feroz, a guerreira assustou o monstro, que tropeçou ao recuar. Indefeso no chão, ele implorou misericórdia. “Conte-me onde ficam os outros buracos do inferno aberração, e eu pouparei sua vida”, ela disse com a voz fria. A pesada espada estava escorada na barriga do monstro, que choramingava. “Existem haréns ocultos em toda a floresta ao sul daqui, três, pelo menos... Por favor me poupe, eu estava apenas cumprindo ordens!”. Sua voz era esganiçada e desesperada, e ele olhava para a espada que pressionava levemente pouco acima do umbigo. “Onde encontrarei seus lideres?” A pressão da espada se intensificou. “Senhora, por favor... Por favor!” Os gritos do urac ecoavam nas paredes da caverna. “Onde?” Ela crispou os lábios ao falar. Pressionou a espada com mais força, e uma gota de sangue verteu da barriga do monstro, conforme a lamina perfurava a carne lentamente. “Ah, pelo Deus Koshei, o comandante do norte tem um harém abaixo da cidade de Piotr, dois dias daqui! Por favor, não me mate! Eu conto tudo, tudo! Ele conta com cem guardas, e tem duzentas esposas cativas. Mas com essa força medíocre você não conseguirá vencê-lo, ele tem guerreiros muito mais poderosos que os meus! Misericórdia mulher, eu já lhe disse tudo o que há para se saber!”. Satisfeita com as respostas, Britva levantou sua espada para executar seu prisioneiro; mas uma de suas guerreiras tocou seu ombro. “Você disse que pouparia a vida dele em troca da informação, Britva. Não seja como eles”. Após um segundo de frustração, a líder das guerreiras baixou sua espada e virou as costas. Abaixou-se, pegou uma adaga que trazia presa na bota e disse. “Muito bem, urac, eu pouparei sua vida. Mas tu não mais molestarás minhas irmãs”. E virando-se repentinamente ela sorriu, mostrando a adaga. Cortou o cinto que prendiam as calças do monstro, e ignorando os gritos dele e as interjeições de nojo de suas irmãs, Britva o castrou.
Não perca o proximo capitulo desta impressionante saga! Na semana que vem, Britva encontra sua nêmesis, o rei Kosha, dos urac. Quer saber o que acontecerá a ela? Então fique ligado, em breve tem mais!



Quem é o bardo?: Tio Barney Bee vive numa cabana tão velha quanto ele no topo daquela colina verde. Ele ainda toca seu banjo, mas a beleza de sua voz já se foi, e agora ele prefere contar do que cantar as histórias que viu em suas aventuras. Contato: E-mail | Facebook.

2 comentários:

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